19 de outubro de 2024

TODOS AO BANQUETE

 

Este ano, o Papa Francisco escolheu o tema «Ide e convidai todos para o banquete (cf. Mt 22, 9)» para o Dia Mundial das Missões de 2024. A citação é tirada da parábola do banquete nupcial para o filho do rei (Mateus 22, 1-14). O Papa escreve no final do primeiro parágrafo: 

Refletindo sobre esta frase-chave, no contexto da parábola e da vida de Jesus, podemos ilustrar alguns aspetos importantes da evangelização. Tais aspetos revelam-se particularmente atuais para todos nós, discípulos-missionários de Cristo, nesta fase final do percurso sinodal que, de acordo com o lema «Comunhão, participação, missão», deverá relançar na Igreja o seu empenho prioritário, isto é, o anúncio do Evangelho no mundo contemporâneo. 

Podemos entender a Igreja como assembleia para louvar o nosso Deus através de liturgias elaboradas e edificantes, cheias de cânticos e palavras – em latim ainda melhor, como querem alguns – e muito incenso. No entanto, somos, primeiramente, Igreja para anunciar o Senhor, Igreja missionária. 

O Papa Francisco é incisivo: a primeira tarefa da Igreja, «o seu empenho prioritário» – como ele escreve, é a pregação do Evangelho. A Igreja é missão. Cada batizado é uma missão. 

 

VAI E CONVIDA

Na parábola de Jesus sobre as bodas do príncipe, os convidados ignoraram o convite: têm campos para trabalhar, negócios para tratar. Alguns descarregaram a própria raiva sobre os mensageiros, espancando ou até matando alguns deles. 

Sabemos que o rei é Deus; o príncipe é Jesus; os convidados são o povo de Israel; as bodas do filho são as bodas do Cordeiro (Apocalipse 19, 9); os servos do rei são os profetas de Deus. 

A salvação de Deus é geralmente apresentada nas Escrituras judaicas como um banquete rico e abundante. Trata-se de uma imagem muito forte para um povo que apenas comia uma magra refeição por dia, normalmente antes de ir dormir. Os casamentos eram parêntesis de abundância de comida e bebida numa vida que, de outra forma, seria esfaimada.

«Ide às saídas dos caminhos e convidai para as bodas todos quantos encontrardes», ordenou o irritado rei aos seus servos. Esta é a nossa faina primeira como servidores do Evangelho, humildes trabalhadores na seara do Senhor: ir e convidar. 

O Rei convida toda a humanidade para o banquete nupcial do Cordeiro. Escreve o Papa: «Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para o chamar à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa. Assim Jesus Cristo, bom pastor e enviado do Pai, andava à procura das ovelhas perdidas do povo de Israel e desejava ir mais além para alcançar também as ovelhas mais distantes (cf. Jo 10, 16)».

A Igreja está em movimento desde a manhã da ressurreição de Jesus, um acontecimento que provocou uma grande agitação e pôs tudo numa roda-viva: Maria de Magdala, as outras mulheres, Pedro e João, até os discípulos de Emaús. Todos a correr. Os seus limites geográficos: os confins da terra, os confins do universo.

Mas a Igreja sai para convidar! «Aqueles servos-mensageiros transmitiam o convite do soberano assinalando a sua urgência, mas faziam-no também com grande respeito e gentileza. De igual modo, a missão de levar o Evangelho a toda a criatura deve ter, necessariamente, o mesmo estilo d’Aquele que se anuncia», observa o Papa. 

 

PARA O BANQUETE

Como já disse, o banquete é uma imagem que serve de parábola para o acontecimento da salvação universal, o banquete escatológico de grande abundância e sem lágrimas, vergonha ou morte, preparado por Deus para todos os povos (Isaías 25, 6-8).

Jesus apresenta a sua missão como o bom e belo pastor que dá vida em abundância a todos: «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (João 10, 10). Ele até iniciou o seu ministério público numa festa de casamento, o seu primeiro sinal, a rogo da mãe.

O Papa sublinha que hoje são oferecidos às pessoas dois banquetes:

1.     O do consumismo, conforto egoísta, acumulação de riqueza e individualismo;

2.     O da alegria, partilha da fraternidade na comunhão com Deus e com os outros.

Ele recorda que a Eucaristia é um sinal sacramental da plenitude da vida prometida a e para todos. «Temos esta plenitude de vida, dom de Cristo, antecipada já agora no banquete da Eucaristia, que a Igreja celebra por mandato do Senhor em memória d’Ele», escreve.

E prossegue: «Todos somos chamados a viver mais intensamente cada Eucaristia em todas as suas dimensões, particularmente a escatológica e a missionária. Reafirmo, a este respeito, que “não podemos abeirar-nos da mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento da missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens”», citando Bento XVI.

A Eucaristia, sendo a fonte e o cume da vida cristã, é a fonte e o cume da missão da Igreja. A Eucaristia termina com o mandamento «Ide». Somos enviados para convidar todas as pessoas, todos os povos para o banquete nupcial do Cordeiro, simbolizado na Eucaristia.

 

TODOS

O Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, o ano passado, disse: «Na Igreja há lugar para todos. [...] Repitam comigo: todos! Todos! Todos! Todos! Não vos consigo ouvir. Outra vez: todos! Toda a gente! Todos! E esta é a Igreja, a mãe de todos.»

Mateus escreve que «os servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos aqueles que encontraram, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se (Mateus 22, 10).

O Papa sublinha este facto escrevendo que «os discípulos missionários de Cristo trazem sempre no coração a preocupação por todas as pessoas, independentemente da sua condição social e mesmo moral. A parábola do banquete diz-nos que, seguindo a recomendação do rei, os servos reuniram “todos aqueles que encontraram, maus e bons”». O desígnio salvífico de Deus não exclui ninguém.

Ele afirma: «o Evangelho de Cristo é a voz mansa e forte que chama os homens a encontrarem-se, a reconhecerem-se como irmãos e a alegrarem-se pela harmonia entre as diversidades».

Bons e maus: todos são convidados para o banquete da salvação que Deus prepara e oferece a toda a criação. Nós, missionários, não podemos fazer julgamentos morais enquanto evangelizamos. Todos são dignos de um lugar à mesa das núpcias do Cordeiro. 

No entanto, cada convidado tem de usar a veste nupcial. Tem de ter os mesmos sentimentos de Jesus Cristo (Filipenses 2, 5) para viver como Cristo Jesus viveu. É esta a transformação que o Evangelho realiza em nós. Chamamos-lhe conversão.

O Papa recorda que a missão é para todos e um compromisso de todos os batizados. Ninguém está desempregado na Igreja; cada batizado está em estado permanente de missão.

«A missão para todos requer o empenho de todos. Por isso é necessário continuar o caminho rumo a uma Igreja, toda ela, sinodal-missionária ao serviço do Evangelho», assinala Francisco. 

 

ESTRELA DA EVANGELIZAÇÃO

O Papa conclui a sua mensagem com um pedido: «Também hoje peçamos a sua [de Maria] intercessão materna para a missão evangelizadora dos discípulos de Cristo. Com o júbilo e a solicitude da nossa Mãe, com a força da ternura e do carinho, saiamos e levemos a todos o convite do Rei Salvador.»

A oração de Francisco apresenta a Mãe como modelo missionário: ela conjuga a alegria materna e a solicitude amorosa com a ternura e o carinho, que são a sua força e nos capacitam para ir e convidar cada pessoa e toda a criação para o banquete nupcial do Cordeiro.

Com Francisco, rezamos: «Santa Maria, Estrela da evangelização, rogai por nós!»

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