8 de outubro de 2009

SÍNODO

Os três representantes da Conferência Episcopal do Sudão querem partilhar no II Sínodo Africano a experiência das suas igrejas em matéria de reconciliação e paz ao longo dos anos.

O Sudão é o maior país africano e também o mais marcado pelo conflito. Independente em 1956 do consórcio anglo-egípcio, entrou em guerra civil um ano antes, em 1955, durante o período de transição quando Cartum renegou o sistema federativo que tinha negociado com o Sul. O acordo de Adis-Abeba, em 1972, assinalou o fim do conflito.
Contudo, a paz foi sol de pouca dura. Em 1983, começou a segunda guerra civil contra a islamização do Sul. O conflito fez mais de dois milhões de mortos e quatro milhões de deslocados e terminou em 2005, com a assinatura do Acordo Global de Paz, em Nairobi, Quénia, consagrando o princípio de um país e dois sistemas: república islâmica no norte e estado laico no Sul.
Contudo, a paz é ainda uma miragem. Segundo a ONU, este ano mais de duas mil pessoas foram mortas em lutas inter-tribais ou entre clãs no Sul do Sudão e notícias de novos recontros aparecem cada semana.
Entretanto, o conflito estalou no Darfur em 2003 e até agora mais de 300 mil pessoas morreram e dois milhões vivem em campos de refugiados.
A Igreja não tem estado à margem desta maré de violência que tem varrido o Sudão mesmo antes da independência.
O bispo de Tambura-Yambio, dom Eduardo Hiiboro, é um dos representantes do Sudão no Segundo Sínodo Africano de Bispos, juntamente com os bispos de Wau, Dom Rodolfo Deng, presidente da conferência episcopal, e dom Daniel Adwok, auxiliar de Cartum.

O Sínodo começou no domingo e vai até 23 de Outubro.
O bispo de Yambio diz que a delegação sudanesa leva na bagagem para o Sínodo a própria experiência de promotora de paz e a reconciliação.
«A Igreja desde o começo das guerras civis tem estado ao serviço das comunidades para promover a paz, a reconciliação, o perdão e a estabilidade. A Igreja não tem estado calada, não tem sido uma ilha isolada, mas tem estado presente na experiência diária do Sudão», disse dom Hiiboro.
Aliás, a sua diocese de Tombura-Yambio tem sido duramente fustigada pelas atrocidades dos guerrilheiros ugandeses do Exército de Resistência do Senhor (LRA na sigla inglesa), que foram acantonados na área durante as conversações de paz com o governo do Uganda, mediadas pelo governo regional do Sul do Sudão.
O líder do LRA, Joseph Kony, recusou-se a assinar o tratado de paz que a sua delegação negociou com o governo ugandês, e os rebeldes dedicam-se a aterrorizar as populações na Equatória Ocidental, no Sul do Sudão, RD do Congo e República da África Central numa orgia de violência que matou centenas, deslocou dezenas de milhares e semeou a destruição e o caos na região.
No mês passado, Dom Hiiboro organizou uma acção ecuménica de três dias de oração e jejum a pedir a paz para a região ao mesmo tempo que apelou à comunidade internacional para ajudar as populações à beira da fome.
O evento culminou com uma marcha de mais de 20 quilómetros em que o bispo participou, descalço como os demais e vestindo roupas velhas, em sinal de penitência pela paz. Mais de 20 mil pessoas estiveram na celebração de encerramento em Yambio.
Antes de partir para Roma, Dom Hiiboro disse-me que levava na mala a experiência sudanesa e as esperanças e as aspirações do Sudão: a segurança, a bondade, a paz e a tranquilidade da pessoa humana.
E adiantou que espera que o Segundo Sínodo Africano encontre respostas para os problemas, os sonhos e as aspirações africanos de paz e estabilidade.
Disse que ia feliz mas também ansioso. E sublinhou que o sínodo tem que pegar na questão fundamental: África qual é o teu problema? Porque é que no teu continente há problemas contínuos de pobreza, matança e guerras?
O tema do Sínodo é a Igreja em África ao Serviço da Reconciliação, da Justiça e da paz.
Perguntei-lhe que colaboração a Igreja Sudanesa pode oferecer ao sínodo.
A sua resposta foi reveladora: «Nós oferecemos a nossa paciência, a nossa tolerância e o nosso movimento gradual para a paz», disse.
Dom Hiiboro rematou que o Sudão como país não tem propriamente uma história de paz e que o conflito e a guerra são uma constante. Contudo, sublinhou, há muitos sudaneses empenhados a trabalharem pela paz.
Dom Hiiboro acrescentou que a Igreja Sudanesa não tem estado calada, que tem lutado contra o que humilha e oprime o ser humano.
«Esta é a experiência que vamos oferecer para não perderem a esperança!», concluiu.

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