30 de outubro de 2009

SEGURANÇA

Elementos da polícia secreta do Sul do Sudão interceptaram esta manhã dois repórteres da Rádio Bakhita que recolhiam depoimentos nas ruas de Juba.
Os radialistas estavam a preparar um programa sobre o recenseamento eleitoral, que começa no domingo, e queriam saber o que é que os cidadãos sabiam sobre o exercício, quando foram abordados pelos elementos da secreta.
Os agentes exigiram aos repórteres uma autorização do Ministério da Informação para recolherem sons ou imagens nas ruas de Juba.
Ao receberem uma resposta negativa, confiscaram o gravador MP3 e os cartões de identificação passados pela administração da rádio, e levaram-nos à sede dos serviços secretos para identificação.
Quando chegaram à rádio, os dois repórteres visivelmente abalados pela experiência, disseram que alguém da administração teria de os acompanhar aos serviços de segurança para prestar declarações e tentar recuperar o equipamento.

A directora telefonou-me e ofereci-me para acompanhar os dois colegas. Fomos recebidos pelo chefe da segurança que começou por exigir a tal carta de autorização do ministério.
Expliquei-lhe que o ministério não passa esse tipo de documentos, que os dois repórteres estavam devidamente identificados, a fazer um trabalho legal e que tinham o direito de o fazer e que os seguranças não os deviam ter incomodado.
Disse que devíamos aclarar a situação com o Ministério na segunda-feira e mencionou um nome. Respondi que era o Secretário de Estado e que o conhecia.
Depois expliquei-lhe que o Director de Informação Pública também nos conhecia. Por sorte, um dos colegas é amigo do funcionário e tinha o seu número de telemóvel.
O chefe de segurança ligou ao funcionário e depois de lhe explicar a situação passou-me o telemóvel. Eu apresentei-me – sou o abuna Joe, o padre Joe, da Bakhita. Depois de explicar que o que os elementos da secreta fizeram aos repórteres não estava correcto, passei a chamada ao chefe que terminou a conversação em árabe.
Depois de mandar uma funcionária comprar-nos água, encheu-se de desculpas, que havia espiões do norte a passarem por jornalistas da Al Jazeera e outras estações, que os tempos eram complicados com as eleições à porta, que Bakhita estava a fazer um trabalho excelente, que agora já nos conhecíamos e não nos iam incomodar, bla bla bla, que déssemos os nossos contactos e aqui tendes os cartões de identificação, «Pastor» leve o MP3 e desculpe qualquer coisinha.
Este é apenas um incidente que dá para perceber que dias mais «pesados» espreitam no horizonte com as eleições à vista e o referendo no virar do ano que vem.

O Sul move-se sob o fio da navalha.

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