Ouvia falar de Massina quando ia celebrar a missa à capela de Jalahu, no fundo de um vale apertado junto ao rio Hawata. Missionava em Haro Wato, nos montes Uraga.
Nessa altura, há um quarto de século, Jalahu era um sítio ermo. As pessoas iam ao mercado e ao moinho a Massina, do outro lado do rio.
Agora, Massina tem uma capela católica que pertence à zona de Adola, da paróquia de Qillenso.
A aldeia fica a cerca de vinte quilómetros de Adola, metade em asfalto, metade em terra batida. A picada acompanha a margem esquerda do rio Hawata por entre plantações de café,
chat — uma planta alcalóide que é legal na Etiópia —, falsas-bananas, árvores de fruto e milharais.
O cenário é de encantar. Há muitas acácias, árvores típicas da savana africana. Os habitantes são amistosos e saúdam a nossa passagem com alegria, sobretudo as crianças.
Quando vivia em Haro Wato, tomei banho várias vezes nas águas límpidas e refrescantes do Hawata, junto à capela de Tuta.
Nesta secção, o rio vai muito sujo devido à prospeção de ouro nas margens e no seu leito.
Os locais garimpam usando pás, picaretas e escudelas. Os chineses usam retro-escavadoras. Há várias a operar nos cinco quilómetros de rio que acompanhamos para chegar a Massina. A concorrência é desleal e, por vezes, transforma-se em conflito violento.
Na última vez que fui celebrar a Massina, um membro da milícia Oromo, a força local que mantém a lei e a ordem, parou-me e perguntou se ia para o ouro.
«Não! Vou rezar com a gente de Massina» — respondi. Mandou-me seguir.
A capela está construída num dos extremos da povoação. Foi aberta pelo comboniano mexicano P. Pedro Pablo Hernández. Iniciamos juntos com um colega espanhol a missão de Haro Wato em 1995. Ele desenvolveu a presença católica em Adola e à volta da cidade santa dos gujis. Chama à atenção, porque está pintada de azul! A minha cor preferida.
Massina é a comunidade católica mais numerosa fora da cidade. Normalmente umas trinta pessoas participam na eucaristia dominical cada seis semanas. A maioria são mulheres. Sempre fiéis ao seu Senhor!
É também uma comunidade muito autónoma. Queriam instalar um sistema elétrico solar para alimentar os altifalantes e fazer concorrência aos protestantes. Juntaram o dinheiro necessário para comprar um painel solar, uma bateria, o controlador de corrente e o inversor — transforma os 12 volts da bateria em 220 —, o estabilizador, um altifalante externo e uma coluna de som interna.
Enquanto o catequista dirige a oração da manhã e o terço, o padre atende os penitentes de confissão.
Se por alguma razão nos atrasamos — ou porque a missa em Adola foi mais comprida, ou porque ficamos presos na lama da picada — o catequista faz a celebração da Palavra.
Depois, a missa é celebrada com calma. Os cânticos são acompanhados pelo tambor e por uma
kerara, uma harpa etíope de cinco cordas. A da comunidade é um modelo comercial com cordas de aço, diferente das artesanais com cordas de náilon ou algodão.
A oração dos fiéis é espontânea e muito participada: uns fazem pedidos, outros expressam agradecimentos pelas bênçãos recebidas. Formam uma espécie de retrato oral da vida das pessoas da comunidade.
A missa termina com dois ou três cânticos em que todos participam cantando e dançando.
No final da eucaristia, serviram-nos uma pequena refeição de
injera — o pão típico de Etiópia, uma espécie de panqueca gigante feita com farinha de
tef, um cereal autóctone do país — com batatas, arroz ou umas papas feitas com tomate. Os anciãos da comunidade tomam parte do repasto. Manda a boa educação que não se coma tudo, porque as mulheres também têm direito ao seu quinhão depois de os homens comerem.
No regresso, é costume cruzarmo-nos com muita gente, sobretudo mulheres, que vêm da celebração dominical de igrejas protestantes ao longo da picada. Cumprimentamo-nos com alegria, porque somos todos irmãos e acreditamos que Jesus ressuscitado é o salvador da criação inteira.