23 de setembro de 2021

REZO


Rezo com o olhar cheio do verde do monte
que se desdobra até ao horizonte pintado de roxo
das urzes que cheiram a mel.
Rezo com o marulhar da água do riacho,
murmúrio de vida por entre pedras gastas,
espelho cristalino da beleza divina.
Rezo com o silêncio cheio de vida,
respiro de Deus que me envolve.
Rezo com a brisa suave,
carícia divina
que afaga a pele e resfria o sol.
Rezo com o azul profundo do céu que me abraça e envolve.
Rezo com as nuvens brancas,
eternas caminheiras, companheiras no espaço sideral.
Rezo com as pedras do caminho que gemem sob os meus passos incertos,
cansados.
Rezo com quem comigo caminha,
anjo custódia que encarna o cuidar de Deus.
Rezo
porque Deus me abraça,
presente de amor,
vida para contemplar,
cuidar.
Rezo porque respiro.
Rezo, sim!

MAIATOS HOMENAGEIAM COMBONIANO FUTEBOLISTA




Um grupo de pessoas ligadas à antiga equipa do Futebol Clube da Maia reuniu-se na tarde de 22 de setembro no Seminário Comboniano da Maia para prestar homenagem ao padre Carlos Bascarán no primeiro aniversário do seu falecimento.

O padre Carlos jogou no Futebol Clube da Maia durante o tempo em que estudou teologia no Porto e desempenhou as funções de prefeito no seminário entre 1966 e 1970.

O comboniano espanhol, natural de Oviedo, faleceu vítima do Covid-19 a 22 de setembro de 2020 em Santa Rita, estado da Paraíba, no Nordeste do Brasil. Tinha 79 anos, a maioria dos quais passada naquele país.

O padre Joaquim Fonseca — companheiro de comunidade e de doença do padre Carlos — presidiu à eucaristia e recordou na homilia o missionário e a sua obras.

«Era um padre bom de bola e bom de missa», frisou, evocando o título de uma reportagem da Rede Globo sobre a presença do padre Carlos na equipa da Ferroviária de João Neiva.

Frei José António Fonseca Santos, padre capuchinho do Amial, no Porto, e colega de equipa do P. Carlos, também esteve presente na eucaristia e na homenagem.

Depois da Eucaristia, o grupo evocou a memória do antigo futebolista do clube, através de uma cerimónia simples: plantou uma oliveira e descerrou uma placa comemorativa no espaço contíguo ao campo de futebol do seminário.

«Padre jogador do F. C. Maia Carlos Bascarán Collantes (1941-2020) amigo que os maiatos guardam no coração» — perpetua a evocatória.

A evocação contou também com a apresentação do “Projeto Legal” (http://projetolegal.org.br/), uma das obras sociais que o padre Carlos mais amava.

O Projeto Legal atende desde abril de 2014 mais de 160 crianças e adolescentes de Marcos Moura, Município de Santa Rita através da educação e alimentação destas crianças de rua.

O padre Carlos além de jogador exímio de futebol era um músico notável. Usava a bola e a música como método missionário para estar com o seu povo.

Homem humilde e alegre, de longas barbas brancas, só se separava dos chinelos brasileiros para colocar as chuteiras.

Começou por estudar química na universidade de Oviedo. Depois trocou o curso pelo serviço missionário como comboniano em Portugal, Espanha e, sobretudo, no Brasil.

22 de setembro de 2021

OUTONO


Os dias minguam
em noites longas, resfriadas
a pedir aconchego
de corpo e coração.

As folhagens pintam-se,
vaidosas,
de ocres, castanhos, rubros,
fogo de artifício
de fim de festa...

Restam os dióspiros, solitários,
fogo-de-Deus,
bolas de natal ao natural
a decorar árvores nuas.

O sol, esgotado dos fulgores estivais,
arrefece
pálida luz,
que acaria a pele
sem o ardor estiolado
do verão passado.

Outono,
o ícone colorido do ocaso
que vai ressuscitar
na erupção da Primavera
depois do hibernar invernal.

A vida decorre:
estação segue estação,
coração alimenta coração.

16 de setembro de 2021

PAPA PÕE IGREJA CATÓLICA A MEXER


A Igreja tem sido representada como uma rocha que permanece firme perante as intempéries da história, bastião da fé e das certezas permanentes.

Contudo, no princípio a Igreja era entendida como a «Via» do Senhor (Actos 18, 25), um caminho, uma comunidade ativa, em movimento. Os cristãos são os «desta Via» (Actos 9, 2).

O Papa Francisco, ao escolher para o Sínodo dos Bispos de 2023 o tema «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão», recupera este conceito dinâmico de Igreja que faz sair os católicos das igrejas em direção às periferias em missão.

O Papa não cessa de proclamar a sinodalidade — o caminhar juntos — como modo de ser Igreja, hoje, desde o acreditar ao evangelizar e governar a comunidade eclesial: «o caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio».

O Documento Preparatório para o próximo sínodo, publicado nestes dias, explica que «caminhando lado a lado e refletindo em conjunto sobre o camino percorrido, com o que for experimentando, a Igreja poderá aprender quais são os processos que a podem ajudar a viver a comunhão, a realizar a participação e a abrir-se à missão. Com efeito, o nosso “caminhar juntos” é o que mais implementa e manifesta a natureza da Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário» (nº 1).

Como o próprio tema do sínodo indica, a sinodalidade traduz-se em comunhão, participação e missão numa interligação essencial.

«A comunhão, que compõe na unidade a variedade dos dons, dos carismas e dos ministérios, tem em vista a missão: uma Igreja sinodal é uma Igreja “em saída”, uma Igreja missionária, «com as portas abertas» (EG, n. 46). Isto inclui a chamada a aprofundar as relações com as outras Igrejas e comunidades cristãs, com as quais estamos unidos mediante o único Batismo», o documento explica no número 15, porque «é impensável “uma conversão do agir eclesial sem a participação ativa de todos os membros do Povo de Deus”» (nº 6).

Este sínodo tem uma dinâmica própria precisamente para envolver todos os fiéis, ajudada por um vade-mécum.

Abre oficialmente em Roma a 9 de outubro e nas dioceses uma semana depois.

As perguntas dos dez núcleos temáticos publicadas no documento preparatório devem ser aprofundadas pelas igrejas locais em ampla consulta até abril de 2022.

As respostas, sintetizadas num máximo de dez páginas, vão servir de base para o Instrumento de trabalho 1 que estará pronto em setembro de 2022 para ser estudado nas reuniões internacionais das conferências episcopais e organismos equivalentes na África, Oceânia, Ásia, Médio Oriente, América Latina, Europa e América do Norte antes de março de 2023. 

Os sete documentos finais dessas assembleias serão a base para o Instrumento de trabalho nº 2, pronto até junho de 2023, para ser discutido no Sínodo em outubro de 2023.

2 de setembro de 2021

CONTRABANDO DE OURO


Negócio ilegal de ouro afecta economias da África de Leste e Austral.

A Global Initiative Against Transnational Organized Crime, com sede em Genebra, na Suíça, publicou em Maio um relatório sobre os mercados ilícitos de ouro na África Oriental e Austral. O documento analisa a mineração artesanal e em pequena escala de ouro no Sudão do Sul, Uganda, Quénia, Zimbabué e África do Sul e os seus circuitos de comercialização. De fora da investigação ficaram a Tanzânia, Moçambique e Madagascar, três importantes produtores, por falta de fundos e de tempo.

O ouro é explorado na região há mais de mil anos sobretudo por métodos artesanais. O seu potencial de desenvolvimento está a ser desviado dos canais oficiais de comercialização, apesar de alguns governos terem tentado regular a exploração informal do metal precioso. Trata-se de uma actividade altamente lucrativa e uma alternativa económica poderosa à agricultura de subsistência.

A investigação apresenta uma gama variada de sistemas de mineração – que vai dos métodos rudimentares usados pelos exploradores no Sudão do Sul aos meios altamente mecanizados empregados no Quénia e no Zimbabué, e a criminalidade associada à comercialização do metal precioso – que incluiu o contrabando de mercúrio (muito perigoso para a saúde e o meio ambiente) e a violência exercida sobre os mineiros.

A comercialização ilícita do ouro envolve uma multidão de actores. Começa nos exploradores – que trabalham em condições muito precárias, perigosas e violentas – e nos gangues que controlam as explorações. Passa pelas elites políticas e militares – que licenciam as minas e asseguram rotas de contrabando em troca de dividendos económicos. Continua nos intermediários que compram o ouro aos habitantes locais e o vendem nos grandes centros. E termina nos estrangeiros, maioritariamente chineses e indianos, embora também haja africanos envolvidos, que levam o ouro para a China, Índia, Países Baixos, Dubai, Emirados Árabes Unidos e Rússia.

O Uganda desempenha um papel importante no contrabando do ouro vindo do Sudão do Sul, da R. D. do Congo e do Quénia. As exportações atingem a ordem dos 850 milhões de euros por ano. Em 2019, o Governo declarou ter exportado pouco mais de dez toneladas de ouro para os Emirados Árabes Unidos, enquanto estes reportaram ter recebido mais de 40 toneladas. O país conta com sete refinarias de ouro legais, uma estrutura demasiado ampla para a produção nacional. Muito do metal vem dos países vizinhos com certificados de origem falsificados.

O ouro, dado o seu valor, é muito fácil de contrabandear: pode ser levado em pequenas quantidades num bolso ou numa carteira. Quantidades maiores, na ordem dos quilos, são transportadas sobretudo em camiões com bens essenciais ou madeira em compartimentos escondidos. O contrabando internacional conta com a ajuda das autoridades fronteiriças e inclui a transformação do ouro em jóias, usadas pelos passadores nos voos internacionais.

O relatório propõe que os governos, à semelhança da Tanzânia, regulem a mineração artesanal de ouro, uma actividade vital para muita gente.