27 de julho de 2007

50 anos

Queridos Pais,
Há 50 anos iniciastes uma caminhada a dois. Juntou-vos o amor. Com a bênção de Deus, fomos cinco e agora somos 11.
Obrigado pelo vosso testemunho: por nos passardes o sentido da vida e da responsabilidade; por nos ensinardes que a paciência e o sacrifício dão frutos.
Obrigado pelos 50 anos de amor.
Um beijão cheio de ternura e um dia muito feliz para vocês.

Há viagens assim

© JVieira

Tinha que vir a Portugal. Tanto podia voar de Juba através de Nairobi como de Adis-Abeba.
Por ser mais directo e por causa dos afectos escolhi o itinerário Juba – Adis-Abeba – Roma – Lisboa.
As surpresas começaram logo em Juba. Passei pelos trâmites habituais de qualquer check-in. Na pista dois membros da tripulação da Ethipian (re)faziam uma inspecção detalhada de cada passageiro à sombra da asa do Fokker 50. Alguns passageiros protestavam pela demora. Outros, com o patriotismo ferido, barafustavam contra os etíopes por não confiarem na segurança do aeroporto. Havia quem dissesse que ali era território sudanês, que os etíopes não tinham o direito de fazer uma busca tão detalhada de cada passageiro. Expliquei-lhes que a placa do aeroporto é considerada território internacional. A funconária etíope gradeceu a minha dica e o processo continuou com mais ou menos vozes discordantes.
Embarcámos e a viagem começou meia hora mais tarde mas o avião aterrou dentro do horário em Adis-Abeba. Eram 18h30.
Tinha combinado jantar com os meus colegas. O voo para Roma estava previsto às 00:07.
Dirigi-me ao funcionário que processa os pedidos de passageiros em trânsito que querem sair do aeroporto. Informaram-me que por ter de esperar menos de seis horas pela ligação não tinha direito a sair. Disse-lhes que tinha um jantar combinado e que estava disposto a pagar o visto. Que não me podiam dar um visto pela mesma razão. Até que um dos funcionários me disse com ar de quem não quer a coisa: «Se nos deres um presente…»

Dei-lhes os 20 dólares que custava o visto, carimbaram-me o cartão de embarque e escoltaram-me ao exterior.
Jantei com o único colega que estava na residência provincial, pusemos a conversa em dia – há dois anos que não passava por Adis - , fiz alguns telefonemas para saudar os amigos mais chegados e voltei ao aeroporto.
O embarque estava previsto para as 23h30, mas era quase 1h30 quando entrámos no Boing 767. Problemas técnicos levaram ao atraso na partida e … na chegada.
Tinha o voo para Lisboa às 6h50, hora em que o avião da Ethiopian aterrou em Roma com mais de hora e meia de atraso. Resultado: tive que refazer o bilhete e pagar 120 euros (100 de multa por não ter embarcado e 20 pelo processamento do novo bilhete). O voo seguinte era às 12h20.
Tinha muito que esperar! Tomei o pequeno-almoço, refiz o registo do bilhete e o check-in, pedi que vissem onde estava a minha mala porque tinha perdido o voo que constava da etiqueta, comprei o último romance do John le Carré - The Mission Song -
e dirigi-me para a porta B1 para esperar pelo embarque.
Uma necessidade «levou-me» à casa de banho. Quando regressei os colegas de voo tinham sumido da porta B1. Dirigi-me aos mostradores electrónicos. O voo da TAP para o Porto via Lisboa tinha desaparecido. No balcão da TAP não havia ninguém. Os funcionários do aeroporto diziam que visse nos mostradores a relocação de porta de embarque. Expliquei-lhes que o voo desapareceu da lista. Estavam tão estupefactos como eu.
Uma funcionária mais diligente telefonou para as informações do aeroporto e descobriu que o voo para Lisboa - Porto se processa através de uma porta de embarque que por engano estava destinada a um voo para Paris.
A viagem até Lisboa foi agradável. Vinha numa fila com uma família italo-cabo-verdiana. Conversámos sobre Palermo de onde vinham e de São Vicente para onde iam. Recordámos Cesária Évora, Lisboa. Meti-me com um miudito à minha frente que tinha uma cobra de pano e brincámos um bocado.
Chegámos a Lisboa dentro do horário previsto. O Espaço Schengen facilita as operações de desembarque. Dirigi-me ao tapete rolante para recolher a minha mala. Mas não houve sinais da mala vermelha que comprei para a reconhecer entre a bagagem dos outros passageiros.
Dirigi-me à Groundforce Portugal para declarar o desaparecimento da mala. Eram 15h34. A minha senha era a A262. Havia 20 números à minha frente.

O pessoal da Groundforce parecia estar a trabalhar no modo de economia de energia. Os números não rolavam no quadro electrónico. Alguns passageiros italianos começavam a perder a paciência com o compasso de espera nos seus planos.
Finalmente fui atendido por uma menina simpática passava das 17h30. Deu-me uma folha de papel com os dados do me processo, um número de telefone e um sítio na Internet para seguir a aventura da minha mala vermelha.
Esta manhã fui à procura da dita cuja na Internet. A malandra não dá sinais de vida virtual. Telefonei para o «call centre» - nome muito fino para quem nos dá música minutos sem fim – e disseram-me que como ainda não tinha passado 24 horas sobre o registo da ocorrência era normal não se saber onde a mala parava!
Tenho bem presente na memória o que a funcionária italiana me disse me Roma: «Não se preocupe com a sua mala. Ela vai consigo. Temos a política de embarcar as malas perdidas no voo imediato». Foi ontem à noite e a minha mala encarnada não chegou. Para a próxima vou mas é comprar uma mala azul e branca. Pode ser que dê mais sorte!!!

16 de julho de 2007

Darfur

CONFERÊNCIA LÍBIA RELANÇA OPTIMISMO

A conferência internacional sobre o roteiro de paz para o martirizado Darfur que decorreu este fim-de-semana na capital líbia, terminou com uma nota de optimismo.
«Estamos muito felizes porque este encontro terminou com uma mensagem, forte de paz e o início de negociações. Penso que agora vemos a luz no fundo do túnel», disse Jan Eliasson, enviado especial da ONU para o Darfur que partilhou a presidência do evento com Salim Ahmed Salim, o seu homólogo da União Africana (UA).
Said Djinnit, Comissário da UA para a Paz e Segurança, disse que os movimentos rebeldes do Darfur mostram vez mais a vontade de reatar o diálogo com Cartum e que o mês de Setembro deve ser crucial, MISNA noticia.
A declaração final da conferência de Tripoli revela que de 3 a 5 de Agosto os enviados especiais da ONU e da UA vão-se encontrar em Arusha, Tanzânia, com os líderes rebeldes que se recusaram a assinar o Tratado de Paz para o Darfur, de Maio do ano passado.
Jan Eliasson está optimista que o Governo do Sudão e os grupos rebeldes do Darfur se sentem à mesa das conversações de paz em Setembro.
A Conferência Internacional sobre o Darfur juntou diplomatas da ONU, da UA, da Liga Árabe, da União Europeia e de 18 países.

15 de julho de 2007

13 de julho de 2007

Sandra

Sandra Amado nasceu no Estado do Paraná, no Sul do Brasil. Aos 15 anos mudou-se com a família para a Rondónia à procura de vida melhor.
Tinha 19 anos quando conheceu as Missionárias Combonianas. Dois anos depois iniciou o processo de formação no instituto.
Depois de fazer os votos foi aprender inglês para Glasgow. A Eritreia foi a sua paragem seguinte. Estudou tigrinha, a língua nacional, dedicou-se à pastoral e ensinou moral e ética numa escola.
Passou pelos Estados Unidos para terminar a sua formação. Agora está em Juba e dá aulas de inglês aos alunos da Escola Secundária São Daniel Comboni. Além de pintar e de fazer uns bolos muito gostosos. E de eu ter com quem falar português!

Darfur

© Lusa
VIDAS REAIS

Samia Ramadan, 5 anos. Chora e pergunta todos os dias pelos irmãos que foram mortos pelos janjauid em Buram.

Zinat Abdu, 3 anos, diz que a casa onde vive agora é muito pobre comparada com aquela em que vivia em Bulbul e que no campo de refugiados de Kalma não tem ovelhas nem cabras para guardar e brincar… nem leite.

Abd el Wahab e a Raqui, 7 ou 8 anos, trabalham com e como os adultos à entrada do campo refugiados de Kalma a fazer tijolos: «Quero trabalhar aqui, fazer e vender muitos tijolos para fazer uma casa para mim e meus avós.» Os seus pais e resto da família foram mortos pelos janjauid.

Ramadan estava prestes a casar com Leila quando vieram os janjauid… Destruíram, queimaram e levaram-lhe a querida noiva que nunca mais chegou a ver. Depois de dois anos Leila ainda estará viva? Talvez escrava?

Abdu e Hachim bateram à porta da missão de Nyala era quase meia-noite. Afoitei-me e fui abrir. «Pedimos protecção por esta noite», dizem. Quase que falam ao mesmo tempo e têm pressa de entrar. «Os amigos dos jaunjauid sabem que estamos aqui na cidade». Abdu e Hachim fugiram de Greida onde se luta há 4 dias. Apareceu uma alma amiga que lhes deu guarida e protecção porque sabia o perigo que tanto eles como eu corríamos. Na manhã seguinte partiram para o sul. São sulistas e cristãos

Jamal viu-me à entrada do seu campo de refugiados em Kalma e perguntou: «Porque não multiplicais os esforços sanitários aqui? Falta de tudo, mas ao menos se houvesse algumas latrinas haveria muito menos risco de infecções e cólera…» É perigoso parar à entrada de um destes campos, eu sei. Mas eu queria ouvir alguém, falar, partilhar esperanças, pobrezas e riquezas. Que as há. De uma e outra parte. Num e noutro sentido.


P. Feliz Martins,
Missionário Comboniano no Darfur

12 de julho de 2007

Darfur

DIPLOMACIA DO GATO E DO RATO

A Secretária de Estado Norte-Americana disse ontem que é tempo de acabar com a diplomacia do gato e do rato do Sudão sobre o Darfur.
«Temos que nos manter resolutos para acabar com o sofrimento e a violência no Darfur. Já morreram pessoas de mais, demasiadas mulheres foram violadas, demasiadas crianças foram separadas das suas famílias», Condoleezza Rice disse aos participantes de uma reunião conjunta da Organização dos Estados Americanos e da União Africana em Washington DC.
«Não podemos deixar o Governo do Sudão continuar este jogo da diplomacia do gato e do rato, prometendo e depois negando. É nossa responsabilidade como nações de princípios, como democracias de princípios, obrigar o Sudão a prestar contas», a Dr.ª Rice advertiu.
Entretanto, Grã-bretanha, França e Gana prepararam o esboço de uma resolução sobre a força híbrida de paz da ONU e da União Africana para o Darfur.
A força vai chamar-se UNAMID e terá cerca de 26 mil elementos entre militares, polícias e civis. Deverá estar operacional do início de 2008 e terá um mandato inicial de um ano.

11 de julho de 2007

Parabéns

© JVieira
Parabéns, Anabela! A vida é um dom maravilhoso. Vive-a!

Lei antipiada



Este mundo está um lugar cada vez mais perigoso. Parece que dizer uma piada já só vai ser permitido entre as paredes de nossa casa – e é se elas estiverem devidamente insonorizadas, não vá o vizinho de baixo ou o de cima ou o do lado sentir-se ofendido.
Imaginem a gente a contar a última do Benfica, e logo o Ernesto, do 5.º esquerdo a bater-nos à porta prometendo queixa na Polícia, porque é sócio do "glorioso", daqueles que até tiveram direito a kit quando se inscreveram, e não admite que se brinque com coisas sérias.
Ou então a gente a contar o último trambolhão que deu para dentro de uma das muitas crateras que infestam os passeios da cidade, chamando nomes ao senhor presidente da câmara (presente e passado) e logo a D. Adelaide do 3.º, que tem uma cunhada que é prima de um afilhado da sogra de um motorista da CML, a avisar-nos que já enviou queixa para quem de direito e que em breve estaremos a ser chamados para declarações, a que se seguirá um processo disciplinar tendo em vista o nosso despedimento de qualquer coisa, de quê ao certo ainda não sabe, mas qualquer coisa, o que é preciso é sermos despedidos, depois se verá de quê.
Perante este descalabro é urgente tomar medidas para que este clima de desconfiança se resolva de uma vez por todas.
Por exemplo à semelhança daqueles guetos que se vão criando por aí para os viciados em tabaco, devia criar-se, em todos os cafés, bares, restaurantes, discotecas e afins, zonas para os viciados em piadolas contra o Governo.
Também nos transportes públicos, evidentemente, haveria áreas demarcadas para os desgraçados que não conseguissem estar mais de cinco minutos sem insultar o ministro da Saúde, e cinco segundos sem desancar na ministra da Educação.
Piadas contra o Sócrates, essas, só apresentando atestado médico, garantindo tratar-se de doença incurável – e para esses arranjava-se salas de chuto devidamente assistidas, em que cada um podia chutar piada atrás de piada até que a metadona começasse a surtir efeito.
Para além de nos proteger a todos desta verdadeira ameaça para a saúde pública, a lei antipiada ainda tinha a vantagem de criar postos de trabalho lado a lado com os fiscais da Emel, por exemplo, andaria o fiscal das piadas à cata de qualquer gargalhada mais dúbia que levasse à imediata detenção do prevaricador – caso não se encontrasse em local permitido por lei.
Por isso, aqui ofereço estas sugestões a todos os candidatos às próximas eleições de dia 15. Isto sem querer intrometer-me em assuntos partidários, claro, não vá o meu vizinho do rés-do-chão, que é mórmon e não vota, pressionar o administrador do condomínio a expulsar-me por estar a agredir as suas convicções...

Alice Vieira, Escritora
Obrigado, Zezita, por esta pérola da Alice

10 de julho de 2007

9 de Julho


9 de Julho representa uma espécie de ponte do Rubicão no Acordo Compreensivo de Paz (CPA) assinado entre o Governo Sudanês e o Exército de Libertação do Povo Sudanês (SPLA) a 9 de Janeiro de 2005.
O CPA impõe que a 9 de Julho de 2007 o V Censo Geral do Sudão esteja completo e o Exército Sudanês tenha retirado dos territórios abaixo da linha de divisão de 1 de Janeiro de 1956 entre o Norte e o Sul do Sudão e as forças do SPLA acima dessa linha.
O 9 de Janeiro passou, o Censo foi adiado para Janeiro - insha Allah - e as Forças Armadas Sudanesas recusam-se a abandonar os campos de petróleo do Sul do Sudão.
O porta-voz das Forças Armadas Sudanesas, Osman al-Aghbash, declarou ao jornal dos militares que 3000 tropas vão permanecer nas áreas de extração de crude depois do 9 de Julho.
Por seu turno, o SPLA continua nas Montanhas Núbias e no Estado de Blue Nile, a norte da linha de fronteira.
Dr. Samson Kuaje, Ministro da Informação do Governo do Sul do Sudão, explicou que o movimento de tropas está a ser dificultado pelas chuvas e que o seu governo tolera um pequeno atraso na retirada das forças sudanesas dos territórios do Sul.
A segurança nas zonas problemáticas de Abyei, Montanhas Núbias, Blue Nile e Unity entre outras
devia passar para as Unidades Integradas Conjuntas, formadas por tropas do norte e do Sul do país. Essa força já foi constituída, mas não está operacional.

9 de julho de 2007

Darfur

© Lusa

AGENTES HUMANITÁRIOS SOB VIOLÊNCIA CRESCENTE

Os agentes humanitários operam no Darfur sob condições de violência crescente e em Junho a situação piorou dramaticamente, indica o relatório sobre segurança de uma agência caritativa presente na província ocidental do Sudão.
Durante o mês passado, foram registados 30 incidentes classificados de sérios e bandidos armados e milícias lançam ataques violentos diários contra organizações não governamentais, escreve o diário londrino «The Independent». No ano passado a média era de 10 ataques por mês.
O relatório denuncia que duas pessoas foram mortas e cinco feridas durante os ataques, 28 agentes humanitários sequestrados e 35 viaturas roubadas, baleadas ou sequestradas.
Em 2006, o Governo de Cartum assinou o Acordo de Paz para o Darfur com uma facção rebelde. O acordo, contudo, não parou a violência. Pelo contrário, o conflito piorou. No último ano mais de meio milhão de Darfurianos procurou refúgio em campos de deslocados internos. Os campos atingiram a lotação máxima, mas os deslocados continuam a chegar diariamente, agências humanitárias alertam.
No Darfur, há cerca de 14 mil agentes humanitários a trabalhar para mais de 80 agências internacionais de ajuda, a maior operação humanitária jamais montada pela ONU.

8 de julho de 2007

Deslocados

O seminário de Alokulu, no norte do Uganda, funciona num campo de deslocados pela rebelião de 20 anos do Exército de Resistência do Senhor (LRA).
A casa de formação alberga 126 seminaristas. Muitos candidatos foram rejeitados por falta de espaço.
O padre Cosmas Alule é o reitor da instituição. Conta que muita gente o pressiona para mudar o seminário do campo de refugiados para um local «mais conveniente e seguro.»
O reitor crê que é bom tanto para os seminaristas como para os deslocados estarem juntos. Por isso, quer manter o seminário onde está.
«Não vamos abandonar os que sofrem; queremos ser solidários com o povo», o padre Alule explicou. «Os futuros padres devem partilhar a vida da gente comum e dar testemunho de Cristo na situação presente».
O seminário de Alokulu fica na arquidiocese de Gulu, mas recebe seminaristas de todo o Uganda.

6 de julho de 2007

Darfur

NAÇÕES UNIDAS E UNIÃO AFRICANA ORGANIZAM CONFERÊNCIA

As Nações Unidas (ONU) e a União Africana (UA) estão a organizar uma conferência internacional para avaliar o novo plano de paz para o Darfur que devia levar a uma nova fase de negociações com todas as forças envolvidas no conflito.
Radhia Achouri, porta-voz da Missão das Nações Unidas no Sudão (UNMIS) revelou antes de ontem em Cartum que a conferência decorre em Tripoli, Líbia, a 15 e 16 de Julho sob a presidência conjunta da ONU e UA.
Treze países foram convidados para a conferência: Chade, Egipto, Eritreia, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, China, França, Rússia e Grã-bretanha), Canadá, Holanda, Noruega, Líbia e, claro, o Sudão.
A União Europeia e a Liga Árabe também foram convidadas.
Entretanto, a ONU e a UA destacaram a Eritreia e o Governo autónomo do Sul do Sudão como possíveis mediadores para as futuras negociações de paz no Darfur entre os rebeldes e Cartum.
Em Maio do ano passado o governo do Sudão assinou o Acordo de Paz do Darfur (DPA) com uma facção do Exército de Libertação do Sudão (SLA) em Abuja, Nigéria. O DPA não trouxe paz ao Darfur. Pelo contrário, a oposição a Cartum passou de dois movimentos (SLA e JEM) para uma dúzia de grupos e facções.

5 de julho de 2007

Estradas

O Director-Geral do Ministério dos Transportes e Estradas foi o convidado do programa Juba Sunrise desta manhã.
Jacob Marial Maker foi literalmente bombardeado com telefonemas dos ouvistes a protestar sobre o estado das ruas da cidade, os trabalhos de reparação mal feitos e descontinuados, a inexistência de drenagem correcta, a reparação da ponte de Juba prometida em Março e ainda não cumprida.
O programa foi um sucesso. Tivemos que desligar o telefone algumas vezes para o Director Geral poder responder às questões do auditório de Bakhita Radio.
As ruas de Juba são um problema difícil de resolver. Vinte e um anos de guerra e a falta de manutenção transformaram as artérias da capital numa autêntica picada africana.
O Governo prometeu alcatroar os 60 quilómetros das vias de Juba. Um quilómetro de betuminoso custa um milhão de dólares. A recuperação e asfaltamento das ruas da cidade custa 65 milhões. Muito dinheiro.
Espera-se que o novo ministro empossado há dois dias traga novo vigor ao ministério para dar algum respiro aos condutores e à mecânica das viaturas que circulam na capital do Sul.

4 de julho de 2007

Publicidade

© JVieira

As ruas de Juba foram recentemente engalanadas com placas gigantes de publicidade.
Sabões e leite em pó são as vedetas do novo formato publicitário induzidas por sorrisos lindos de jovens simpáticas.
Tudo bastante básico, pode-se argumentar. Mas o poder de compra dos jubanos é limitado e o dinheiro mal chega para o essencial. Juba tem a fama - e o proveito - de ser uma ds cidades mais caras do mundo. Quase tudo é importado.
A capital do sul do Sudão já contava com muita informação urbana em dimensões mais modestas: identificação de edifício e de serviços públicos, anúncios relacionados com a prevenção de malária e da sida, publicidade a hotéis, companhias aéreas, etc. As placas gigantes dão-lhe um ar mais urbano e moderno!

3 de julho de 2007

Remodelação

Tenente-General Salva Kiir © JVieira

Salva Kiir, presidente do Governo semi-autónomo do Sul do Sudão (GoSS em inglês) substituiu seis dos seus ministros na noite de 2 de Julho numa remodelação há muito esperada e desejada.
As substituições mais importantes registaram-se nas pastas da Habitação, Terra e Utilidades Públicas e dos Transportes e Estradas.
O primeiro ministério era acumulado pelo vice-presidente Dr. Riek Machar Teny-Dourghon, que assim vê o seu poder bastante diminuído. O Dr. Machar é também o negociador chefe das conversações de paz entre o Exército de Resistência do Senhor (LRA) e o governo ugandês.
Rebecca Nyandeng De Mabior, a viúva do fundador do SPLA, há muito que era contestada pela fraca prestação à frente do ministério dos Transportes e Estradas. Sobretudo em Juba, onde as ruas se encontram em péssimo estado. Mamã Rebecca é agora Conselheira Presidencial para Questões do Género e dos Direitos Humanos.
O ministério das Finanças e Planeamento económico passa a ter ministro próprio. O ex-titular do ministério está a ser investigado por alegada corrupção e foi substituído interinamente pelo detentor da pasta dos Assuntos Parlamentares que volta a tempo inteiro ao seu ministério.
O cargo das Finanças e Planeamento Económico, entregue a Kuol Athian Mawien, é um dos postos mais quentes do GoSS. O governo está com problemas sérios de liquidez. O orçamento para 2007 tem como entrada única a percentagem da exploração do petróleo. O governo central está a passar ao GoSS cerca de 60 por cento do total orçamentado e o dinheiro não chega para pagar aos militares (que gastam cerca de 40 por cento do orçamento), professores, fornecedores…
Os novos ministros da Habitação, Terra e Utilidades Públicas, dos Assuntos do Conselho de Ministros, dos Transportes e Estradas, das Finanças e de Planeamento Económico, do Trabalho, Serviço Público e Recursos Humanos, dos Assuntos do SPLA, a pasta da Defesa, e da Saúde foram empossados na manhã de 3 de Julho.

2 de julho de 2007

Refracções

© JVieira

INQUIETUDE

Porto seguro eu fui
Mar profundo para muitos
Tempestades acalmei
Recolhi todos os frutos

Saudades para matar
Satisfatórios encontros
Inquietudes a granel
Traições e desencontros

Flecha sem alvo sou
Desejo que não se apaga
Implacável inquietude
Ninguém que me satisfaça
Elvis

1 de julho de 2007

Mil palavras

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Juba: margens do Nilo Branco ao amanhecer © JVieira

Uganda

O ACORDO DOS ERRES

As delegações do Governo Ugandês e do LRA (Exército de Resistência do Senhor em inglês) assinaram na noite de sexta-feira no Hotel Juba Raha o Acordo de Responsabilidade e Reconciliação.
O documento levou dois meses a ser negociado. Trata dos princípios de responsabilização pelas atrocidades cometidas pelas partes durante os 21 anos de guerra civil no Norte do Uganda em tribunais tradicionais e nacionais e dos mecanismos de reconciliação e de reparação às vítimas do conflito.
O conflito deslocou um milhão e meio de pessoas no norte do Uganda e no Sul do Sudão e fez 12 mil mortos. 25 mil crianças foram raptadas para servirem de soldados ou escravas sexuais, muitos mutilados e inúmeras aldeias saqueadas e queimadas.
O Capitão Varijiba Hoko, porta-voz da delegação ugandesa, disse que a assinatura do terceiro documento da agenda das negociações de paz é um acontecimento importante no processo de paz.
As duas delegações têm agora um mês para propor meios práticos para implementar os acordos assinados, o porta-voz do LRA, Godphrey Ayoo explicou.
O ambiente no salão do hotel onde decorrem as negociações era de euforia e as duas delegações acabaram a cantar juntas o hino nacional ugandês e a dar vivas à república. Uma atitude muito diferente dos primeiros encontros em que os delegados se ignoravam mutuamente.
As partes voltam à mesa das negociações no fim do mês para negociarem os pontos quatro e cinco da agenda das conversações: cessar-fogo e desarmamento, desmobilização e reintegração.